Mudança foi anunciada após circulação de um vídeo em que estudantes da Universidade de Fudan, em Xangai, cantam uma música da escola exaltando ‘independência acadêmica e liberdade de pensamento’.
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Formandos da Universidade de Fudan, em Xangai, posam em frente à estátua do líder chinês Xi Jinping — Foto: Aly Song/Reuters
Uma importante universidade chinesa removeu referências à “liberdade de pensamento” de seu regulamento, desencadeando um raro ato de desafio dos estudantes, enquanto duas outras instituições acrescentaram linguagem enfatizando a lealdade ao presidente Xi Jinping e ao Partido Comunista.
Um vídeo que circulou nesta semana mostrou estudantes da Universidade Fudan de Xangai cantando a música da escola – que exalta “independência acadêmica e liberdade de pensamento” – em um aparente protesto.
A mudança de estatuto da Fudan foi anunciada pelo Ministério da Educação em seu site na noite de terça-feira (17) e as críticas rapidamente se espalharam pelas mídias sociais antes que os sempre vigilantes censores online da China agissem para excluir postagens e bloquear discussões.
Ideologia de Xi
Além de remover a “liberdade de pensamento”, o regulamento acrescenta “armar as mentes de professores e alunos com a nova era da ideologia socialista de Xi Jinping com características chinesas”.
Também obriga o corpo docente e os alunos a aderirem aos “valores socialistas fundamentais” e a criar um ambiente de campus “harmonioso” – uma frase em código para a eliminação do sentimento antigovernamental.
O ministério anunciou mudanças pró-governo semelhantes para a Universidade de Nanjing, no leste da China, e a Universidade Normal de Shaanxi, no norte, no início deste mês, embora nenhuma instituição tenha mencionado anteriormente a liberdade de pensamento.
Xi Jinping é tido como o líder chinês com mais poder desde Mao — Foto: Getty Images
Culto à personalidade
Xi assumiu o cargo em 2012 e implementou uma campanha para aumentar o domínio do Partido Comunista e construir um culto à personalidade em torno de si, que inclui apelos à adesão a um “Pensamento Xi Jinping” vagamente definido, lembrando os dias do fundador comunista Mao Zedong.
O governo de Xi estrangulou ativistas e outros críticos, ao mesmo tempo em que pressionava o dogma marxista em toda a sociedade chinesa, da política à cultura e à educação.
Mas mesmo os estudantes marxistas enfrentaram uma reação negativa, pois a polícia reprimiu alguns que apoiaram um movimento pelos direitos trabalhistas no ano passado.Os riscos de desafiar Xi impediram uma grande reação do público. Mas a Fudan, uma das instituições de ensino superior mais seletivas da China, também está entre as mais liberais, com um corpo discente orgulhoso de sua reputação de relativa liberdade acadêmica.